quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O uso indevido de antibióticos

A resistência antibiótica, resistência a antibióticos ou resistência antimicrobiana, pode definir-se como a capacidade que têm os microrganismos de resistir aos efeitos dos antibióticos. O aparecimento dos antibióticos constituiu, sem dúvida alguma, um dos momentos fundamentais das descobertas na medicina e que alteraram o panorama da saúde pública à escala mundial.

De facto, com a chegada dos antibióticos, na primeira metade do séc. XX, doenças como a tuberculose, a sífilis e algumas pneumonias foram prontamente contidas, pouparam-se, a partir daí, muitos milhões de vidas. No imaginário de muitas pessoas, esta capacidade dos antibióticos em tratar eficazmente doenças infecciosas anteriormente fatais, desenvolveu-se a ideia de que eram remédios bons para tirar a febre e para tratar infecções e inflamações de todos os tipos. Iniciou-se com essas práticas um uso excessivo e indevido que levou à resistência antimicrobiana, um flagelo que leva a que muitos dos antigos antibióticos se tornaram ineficazes, o que obriga a investigação farmacêutica a desenvolver novos antibióticos, devido ao aparecimento de novas estripes bacterianas resistentes a vários antibióticos.

Como se escreve num documento de divulgação da Comissão Europeia sobre a resistências aos antibióticos: “As infecções causadas por esses patogéneos resistentes aos multimedicamentos constituem um desafio especial de que resulta um aumento de complicações clínicas e o risco de doenças graves que outrora podiam ser tratadas com sucesso, hospitalizações mais longas e custos significativamente mais elevados para a sociedade. O pior cenário, que infelizmente não improvável, é que os patogéneos perigosos acabem por ganhar resistência a todos os antibióticos anteriormente eficazes, levando assim a um aumento incontrolado de epidemias que não poderão ser tratadas”. Vivemos pois ameaçados pelas superbactérias. Tanto a Organização Mundial da Saúde como a Comissão Europeia tem vindo a propor aos Estados que lancem campanhas dirigidas aos profissionais de saúde e ao público em geral visando estabelecer regras para quem prescreve, quem dispensa e quem toma antibióticos. As farmácias não podem ficar insensíveis a tal desafio.

Todos temos responsabilidades no bom uso dos antibióticos

Tendo passado a ser banal recorrer-se á utilização de antibióticos para toda e qualquer situação, mesmo que não se trate de uma infecção produzida por bactérias, todos nós, sem excepção, temos que ser convocados para inverter  a eventualidade de um aumento incontrolado de epidemias. Na educação para a saúde, nas acções preventivas nos centros de saúde, sobretudo na comunicação entre o pediatra e a mãe, nas farmácias, nos meios de comunicação social, temos que dizer frontal e insistentemente: um antibiótico só pode actuar sobre bactérias, não pode actuar nos vírus. Por exemplo, gripes, constipações, sarampo, hepatite, varicela ou papeira são provocadas por vírus, os antibióticos são ineficazes. A grande maioria das infecções comuns não são tratadas por antibióticos porque são de origem vírica. Depois deste esclarecimento, impõe-se outro, já referido anteriormente: o uso imoderado de antibióticos favorece o contacto das diversas bactérias com múltiplos antibióticos, as quais, pelos seus mecanismos de defesa sofrem mutações para conseguir conviver com os antibióticos, tornando-se por vezes indestrutíveis, a bactéria sobrevive ao contacto com o antibiótico.

Temos, pois, todos que mudar de comportamento. O prescritor deve: avaliar convenientemente as queixas do doente; seleccionar o antibiótico mais efectivo; evitar a escolha dos antibióticos mais recentes; basear a sua selecção no local da infecção e na probabilidade desta ser provocada por determinada bactéria; manter o doente informado da necessidade de aderir ao tratamento e dos perigos do uso indevido dos antibióticos; recusar a prescrição dos antibióticos que o doente pretende fazer em automedicação. O farmacêutico tem também pesadas responsabilidades, a saber: recusar a dispensa de antibióticos sem receita ou sem indicação médica expressa; verificar se o doente está devidamente informado sobre a duração do tratamento, alertando-o para as consequências de interromper o tratamento antes de tempo, mesmo que o doente se sinta melhor; prestar informações adicionais que considere convenientes para o uso correcto do medicamento (alguns devem ser tomados em jejum, outros às refeições, por exemplo as tetraciclinas não devem ser ingeridas com leite). O doente deve ser responsabilizado para acatar a prescrição médica e o aconselhamento farmacêutico. Além disso, deve saber agir: só deve iniciar um tratamento com antibiótico após um diagnóstico médico; a constipação e a gripe não devem ser tratadas com antibióticos porque estes não produzem qualquer efeito nestas situações; não se deve insistir junto do farmacêutico para que este lhe dispense um antibiótico sem receita médica; não deve ser considerada como melhor farmácia aquela que vende antibióticos sem receita médica; seguir com rigor as recomendações do médico e do farmacêutico sempre que for prescrito um antibiótico; cumprir o tratamento prescrito até ao fim, respeitando o intervalo entre as tomas e a duração; não interromper a terapêutica mesmo que se sinta melhor (o alargamento do intervalo entre as tomas e a suspensão do tratamento logo que se registem melhoras, são duas das principais causas responsáveis pela resistência bacteriana).

Fonte: O Ribatejo

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