E assim, de forma muito forte no Brasil, a cultura da automedicação vai ocupando seu espaço. Diante de quaisquer sintomas, especialmente os mais comuns, como aqueles banais causados pelas viroses, inúmeras pessoas partem para as farmácias mesmo sem ouvir antes os médicos. Embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamente a venda e a propaganda de medicamentos que possam ser adquiridos sem prescrição médica, os casos mostram que não funciona a regulamentação para aqueles que resolvem consumir tais remédios por indicação própria, na dose que lhes convém e na hora que acharem bem conveniente. Isso porque é fácil comprar medicamentos sem prescrição.
Nos países europeus ocorre o mesmo. Pesquisas demonstram que 5,6 pessoas por farmácia e por semana fazem uso indevido de algum tipo de medicamento. Já no Brasil, a extensão da automedicação não é conhecida com precisão, mas apenas em caráter anedótico ou por meio de levantamentos parciais e limitados. Sabe-se que, por exemplo, das pessoas que procuram atendimento na rede de saúde, cerca de 14% adquiriram medicamentos sem receita médica, percentual que parece subestimado, provavelmente porque a pesquisa não tenha sido elaborada com a finalidade de avaliar o consumo da medicação.
Trata-se de um problema universal, antigo e de grandes proporções, a ponto de a automedicação ser considerada uma forma de não adesão às orientações médicas e de saúde. É justamente nesse sentido que Hipócrates (de 460 a 377 a.C.) já sentenciava que “toda vez que um indivíduo diz que segue exatamente o que eu peço, está mentindo”. Ou seja, não há como acabar com a automedicação, provavelmente pela própria condição humana de testar e arriscar decisões. Médico e sanitarista grego, Hipócrates é considerado pela civilização contemporânea como uma das personalidades mais importantes da história da saúde, frequentemente tido como “pai da medicina”.
Mas, apesar de tudo, existem meios para minimizar a automedicação, a partir de programas de orientação para profissionais de saúde, farmacêuticos, balconistas e a população em geral, além do estímulo à fiscalização apropriada. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Antonio Carlos Lopes, a falta de preocupação com a saúde é cultural, mas ocorre que o médico também não dá as explicações sobre a doença e a importância de fazer acompanhamento e prevenir complicações. Segundo ele, “dessa forma, o paciente acaba recorrendo ao ‘doutor Google’ para entender o que tem, até porque as classes sociais mais baixas esbarram na falta de estrutura do sistema público [de saúde]”.
Ultimamente, a intoxicação por medicamentos é uma das ocorrências mais comuns. Os farmacêuticos consideram que grande parcela desses casos é resultado da automedicação praticada no país ou do uso indevido de medicamentos sem orientação médica. Dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde comprovam que o mercado brasileiro dispõe de mais de 32 mil medicamentos, motivo pelo qual o Brasil ocupa o sexto lugar entre os países consumidores desse tipo de produto.
Como se isso não bastasse, informações colhidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que as famílias brasileiras gastaram, em 2007, R$ 44,8 bilhões com medicamentos, o que evidencia até que ponto a automedicação faz parte da cultura brasileira.
Fonte: Brasilia em Dia
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