Leucemia linfoide
aguda
Um artigo descrevendo
pela primeira vez uma mutação ativadora na proteína IL7R (Receptor da
Interleucina 7) foi publicado hoje pela revista Nature Genetics.
Entre os autores
estão os pesquisadores brasileiros Priscila Pini Zenatti, André Silveira, Jörg
Kobarg, Silvia Brandalise e José Andrés Yunes, dos Centro Infantil Boldrini,
referência nacional em tratamento de câncer infantil, e da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp).
A pesquisa levou
cinco anos para ser concluída e revela que a proteína IL7R defeituosa leva à
proliferação descontrolada das células na leucemia linfoide aguda T (LLA-T).
Foram estudados 201
pacientes com leucemia linfoide aguda T, sendo 68 provenientes do Centro
Infantil Boldrini, de Campinas.
Novo alvo para
tratamentos
O estudo revelou que
cerca de 10% dos pacientes com leucemia linfoide aguda T possuem a mutação
IL7R.
Esta descoberta é
fruto da pesquisa de Priscila Pini Zenatti, pesquisadora do Boldrini e aluna da
Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular do Instituto de Biologia (IB) da
Unicamp.
Ela contribui para a
identificação e a compreensão de um novo mecanismo, responsável pelo surgimento
da leucemia infantil.
Em curto prazo, essa
mutação poderá ser usada como um novo alvo para o desenvolvimento de drogas específicas
para o tratamento da leucemia infantil.
Gene defeituoso
"Nos testes com
cobaias, os ratinhos que receberam o gene da proteína IL7R defeituosa ficaram
doentes, desenvolveram tumores e infiltração de células leucêmicas em diversos
órgãos, que ficaram muito aumentados em tamanho, quando comparados com os
ratinhos que receberam a proteína normal", afirma Priscila Zenatti.
"Os resultados
deste estudo contribuem para o conhecimento das diferentes vias de ativação das
proteínas envolvidas na proliferação e maturação das células linfoides.
"Por outro lado,
o reconhecimento da proteína IL7R na patogênese da leucemia T-derivada trará
novas perspectivas para o desenvolvimento futuro de novas terapias
alvo-específicas," comentou a oncologista Silvia Brandalise, que é
diretora do Boldrini.
Células-tronco
A proteína IL7R é
muito importante para o amadurecimento e a sobrevivência das células-tronco do
sangue. Parte das células-tronco sanguíneas irá formar os linfócitos T (um tipo
de célula de defesa do organismo), que nascem na medula, migram para o timo
(órgão próximo ao coração), onde ocorre o processo de amadurecimento e depois
seguem para outros órgãos (linfonodos, baço etc).
"A mutação do
IL7R causa a ativação contínua da proteína, contrariando o processo normal de
amadurecimento celular, o que leva à proliferação exagerada de linfócitos
imaturos", explica a pesquisadora.
Esta mutação está
presente em 10% das leucemias linfoide aguda T (LLA-T). "É preciso agora
entender se as mutações do IL7R ocorrem ao acaso ou se há algum fator genético
ou ambiental que predisponha a ocorrência da mutação e a progressão da célula
mutante em leucemia", acrescenta Andrés Yunes.
Aplicação terapêutica
A fim de testar uma
potencial aplicação terapêutica destas mutações, os pesquisadores realizaram
testes preliminares com algumas drogas que foram capazes de levar à morte
células portadoras da proteína mutada.
"Isso já é um
bom sinal, pois há casos de câncer onde as células se tornam resistentes ao
tratamento. No entanto, ainda serão necessários futuros estudos para minimizar
possíveis efeitos colaterais e também estudar a possibilidade de ministrá-las
juntamente com outras drogas durante o tratamento das LLA-T", diz Priscila
Zenatti.
Os próximos passos do
estudo serão concentrados no desenvolvimento de anticorpos e novos fármacos,
que reconheçam especificamente a proteína mutada. "A utilização desses
anticorpos, como uma nova droga, trará a possibilidade de inativar a proteína
mutada sem afetar as células normais do paciente", avalia a pesquisadora.
Leucemia
A leucemia é a forma
mais comum de câncer na infância e na adolescência, representando em torno de
30% de todas as neoplasias em crianças menores de 15 anos de idade.
A Leucemia Linfoide
Aguda (LLA) é o tipo de câncer da criança e do adolescente mais frequente no
Brasil, com estimativa de 2 mil novos casos por ano, segundo estimativa do
Ministério da Saúde.
Já a Leucemia
Linfoide Aguda T (LLA-T), subtipo da LLA, corresponde a aproximadamente 15% dos
casos de LLA.
O Centro Infantil
Boldrini atua há 33 anos no cuidado de crianças e adolescentes com câncer e
doenças hematológicas.
Atualmente, está
tratando perto 7 mil pacientes de diversas cidades brasileiras e alguns de
países da América Latina, a maioria (80%) pelo SUS.
O hospital é
considerado um dos centros mais avançados do país, reunindo alta tecnologia em
diagnóstico e tratamento especializado, com índice de cura de 70% a 80% em
alguns tipos de câncer.
Fonte: Diário da Saúde
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