terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Futuro da medicina: fármacos “inteligentes” combatem o cancer

Os especialistas prevêem a multiplicação de "fármacos inteligentes" capazes de combater tumores específicos com maior precisão. Embora o número de casos deva continuar a aumentar nos próximos 30 anos, devido ao envelhecimento da população mundial, a probabilidade de um paciente sobreviver será cada vez maior.

Nos últimos dez anos os cientistas empenharam-se em estudar como cada tipo de tumor se comporta: investigar o seu ADN, como se origina e se esconde do sistema imune dos pacientes, de que maneira se espalha pelo corpo. Esta investigação vem apontar pontos
frágeis capazes de serem explorados por uma nova classe de medicamentos.

“Quanto mais entendemos como os tumores se formam e se comportam, mais eficazes são os novos fármacos que produzimos”, afirma o director do Serviço de Oncologia e professor da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul, no Brasil, Bernardo Garicochea.

Por exemplo, recentemente, percebeu-se que 25% das vítimas de cancer de mama apresentam níveis elevados de uma proteína chamada HER-2. Ao desenvolver um medicamento que reduz a quantidade de HER-2, os médicos ganharam terreno na guerra contra o cancer da mama. Um método semelhante foi desenvolvido para um tipo de cancer do intestino.

Fármacos “inteligentes”

Nas próximas décadas, deverá haver centenas de fármacos como estes, chamados "inteligentes" porque atuam nas células cancerosas e poupam as demais. Os tratamentos poderão ser usados em combinação com técnicas tradicionais, como a quimioterapia, e até substituí-las ao longo do tempo. De acordo com o oncologista do Hospital de Clínicas Gilberto Schwartsmann, além de escolher o produto mais eficiente para o tipo específico de tumor do paciente, os médicos poderão basear a sua escolha no tipo biológico do doente.

Hoje, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de metade dos casos de cancer no mundo já encontram cura. Até 2030, como o envelhecimento da população mundial se intensificará, o número de casos deverá crescer. Por isso, apesar dos avanços na medicina, acredita-se que o número de mortes pode passar de 7,9 milhões, em 2007, para 11,5 milhões ao ano. Mas novas descobertas poderão refazer esta conta.

Liane de Araújo, sobrevivente de cancer de mama e vice-presidente do Instituto da Mama, em Porto Alegre, prevê que, em 2030, a quimioterapia e a radioterapia ainda façam parte do arsenal médico, mas que cada vez mais o tratamento seja individualizado. Cada subtipo de tumor deverá ter um fármaco específico, que também levará em consideração as características biológicas do doente. Além disso, os pacientes que tiverem predisposição genética identificada, por meio de exames, para determinados tipos de cancro, poderão receber cuidados e tratamentos preventivos.

Não deverá haver uma cura genérica para o cancer, mas sim tratamentos cada vez mais precisos para cada tipo de tumor, e sistemas mais eficazes de detecção precoce. Num cenário otimista, no futuro, a neoplasia pode transformar-se numa doença de perfil mais crónico do que letal, segundo esta especialista.

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