quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Brasileiro consegue bloquear expansão de câncer com remédio menos agressivo


Na luta contra o câncer, os cientistas impuseram um desafio que começa a dar resultados: abrir mão da quimioterapia, procedimento que mata as células tumorais, mas também destrói as estruturas saudáveis, e apostar na chamada terapia-alvo, mais precisa e segura. Nessa linha, um pesquisador brasileiro destacou-se ao publicar, na edição de hoje da revista especializada Science Translational Medicine, o resultado de um estudo promissor, que traz esperança às portadoras do câncer de endométrio, o sexto que mais acomete mulheres no mundo — em 2008, houve 287.630 novos diagnósticos e 74.270 óbitos, o que equivale a 2,2% de todas as mortes por câncer entre pacientes do sexo feminino.

Jorge S. Reis-Filho, do Instituto de Pesquisas sobre o Câncer de Londres, na Inglaterra, conseguiu, em testes in vitro, atingir o calcanhar de aquiles do mecanismo que faz com que as células malignas do útero se reproduzam, sem precisar recorrer a drogas quimioterápicas. Ele explica que há dois tipos de câncer de endométrio, sendo que um deles, o mais comum, é provocado, em 80% dos casos, por uma alteração genética em uma enzima chamada Pten (sigla para fosfatase e homólogo angiostensina), um dos mais importantes supressores das células tumorais, pois regula o crescimento das estruturas. Segundo o artigo de Reis-Filho, a perda da função do Pten é a aberração genética mais comum nos carcinomas do endométrio.

A droga desenvolvida pela equipe de Reis-Filho, chamada inibidor da Parp (sigla de poliadonosina-difosfato-ribose polimerase), mostrou potencial para destruir o tumor do útero resistente às atuais terapias. A Parp é uma enzima que ajuda a reparar o DNA quando ele sofre algum tipo de dano, como a perda da função genética do Pten, mas, ao mesmo tempo, pode ser maléfica, porque ela ajuda a consertar mutações nas células cancerígenas.

Para evitar a ação dessa enzima, o inibidor trabalha de forma a bloquear o mecanismo de reparação das células doentes, impedindo o ciclo de vida e reprodução das estruturas que, em consequência, morrem. “A quimioterapia consegue fazer isso, mas o problema são os efeitos colaterais”, disse o pesquisador ao Correio. Já os inibidores da Parp matam as células do tumor, mas conservam as saudáveis, evitando os inúmeros incômodos associados à quimioterapia.

Durante a pesquisa, os cientistas confirmaram que as células cancerígenas nas quais o Pten perde sua função não conseguem reparar o DNA por um processo natural que ocorre no organismo, chamado recombinação homóloga, que consiste no rearranjo das camadas duplas que formam o DNA. Ao falhar, elas deixam de reproduzir as células doentes ou, como simplifica Reis-Filhos, as células “são enganadas”.

“Os primeiros inibidores da Parp foram utilizados no combate ao câncer de mama”, conta o pesquisador. As drogas mostraram-se promissoras no tratamento de tumores provocados por mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, responsáveis por 10% dos casos de câncer de mama. Na fase 1 de um estudo conduzido na Inglaterra, cujos testes tinham como único objetivo verificar a toxidade da droga em humanos, 41% dos pacientes mostraram boa resposta, o que animou os pesquisadores, já que a eficácia da droga sequer estava sendo estudada naquela ocasião. O mais animador é que as voluntárias só precisavam tomar uma pílula, procedimento muito menos traumático que a quimioterapia.

No entusiasmado editorial da edição on-line do New England Journal of Medicine, onde o experimento em fase 1 foi publicado, os autores afirmaram que “certamente existem outros tipos de tumores com defeito na recombinação homóloga que são candidatos para a terapêutica de inibição da Parp”. O pesquisador conta que os primeiros ensaios clínicos com o inibidor da Parp para tratar o câncer de útero já estão sendo discutidos e devem começar em até 18 meses.

Combinação

Outra terapia promissora para o tratamento do câncer do útero surgiu nos laboratórios da Universidade do Texas e foi testada em um pequeno grupo de pacientes em estágio avançado ou com tumor reincidente. A equipe, liderada pela professora do Departamento de Ginecologia Oncológica, Jubilee Brown, constatou que, combinadas, a gemcitabina e a cisplatina, dois agentes quimioterápicos, apresentam uma resposta positiva para 50% das pacientes.

Segundo Brown, enquando o câncer de endométrio no estágio inicial responde, normalmente, a terapias convencionais, a quimioterapia e o tratamento hormonal (veja infografia) não conseguem conter as mortes e as reincidências nos casos mais avançados. De acordo com a Sociedade Americana de Câncer, somente 15% das mulheres no estágio 4 sobrevivem mais de cinco anos depois do diagnóstico.

O estudo foi feito com 20 pacientes, que receberam gemcitabina e cisplatina, drogas utilizadas normalmente para outros tipos de câncer. Elas limitam a progressão da doença e aumentam a sobrevida, ao mesmo tempo em que apresentam níveis tóxicos toleráveis. Acredita-se que, quando administradas juntas, a gemcitabina diminui a resistência das células doentes à cisplatina, tornando o tratamento mais eficaz.

“Os resultados que obtivemos foram encorajadores e ofereceram uma nova direção para a nossa pesquisa para mulheres que sofrem de doenças em estágios avançados”, disse a médica ao Correio. “Nossa descoberta tem potencial de oferecer outra opção para essas pacientes, mas para estabelecer o teste como um tratamento viável ainda teremos de fazer mais pesquisas”, pondera.


Leia mais sobre câncer de endométrio

O câncer endometrial ou do endométrio, atualmente, é considerado a sexta neoplasia maligna da mulher, superada pelas neoplasias do colo uterino, pele, mama, intestino grosso e estômago.De todos os tumores da genitália feminina, 11% são do corpo uterino e destes, 90% são representados pelo câncer do endométrio. Sua maior incidência é entre os 55 e 65 anos de idade e seu aparecimento é mais comum em mulheres brancas, obesas, na pós-menopausa, de baixa paridade e com menopausa tardia.

São considerados fatores de risco para o carcinoma endometrial:

* Estrógenos exógenos
* Estrógenos endógenos
* Nuliparidade
* Dieta rica em gordura
* Obesidade
* Diabetes
* Hipertensão
* Terapia com tamoxifeno

A ação estrogênica persistente é o fator fundamental na gênese da hiperplasia e do carcinoma endometrial, ficando mais evidente e perigosa na pós-menopausa porque nesta fase, o estrogênio estimula a ação proliferativa do endométrio sem a oposição da progesterona. A hiperplasia endometrial é conseqüência do desequilíbrio estro-progestínico endógeno ou exógeno e da maior receptividade do endométrio a esses esteróides. Há evidências de que o adenocarcinoma seja freqüentemente precedido ou associado com a hiperplasia, em particular a atípica, no entanto o número de mulheres com hiperplasia que progride para câncer de endométrio é baixo, variando de 15 a 30%.

Diagnóstico de carcinoma endometrial e suas lesões precursoras

O câncer endometrial causa sangramento uterino anormal como primeiro sintoma em 90% dos casos, tornando relativamente simples sua detecção precoce. De fato, em 75% dos casos o diagnóstico é feito no estádio I da doença. Entretanto menos de 10% das mulheres com sangramento da pós-menopausa apresentam câncer do endométrio. Recentemente novos métodos e técnicas foram desenvolvidos para detecção precoce do câncer endometrial como a ultra-sonografia transvaginal, citologia endometrial, biópsia do endométrio e histeroscopia. A ultra-sonografia e a citologia podem ser consideradas como método de investigação, enquanto as associações da histeroscopia com a biópsia compõem o método de escolha para as pacientes sintomáticas. A utilização destes dois últimos recursos permite eliminar a curetagem uterina como opção diagnóstica em 95% dos casos de carcinoma; vale lembrar que em 60% das curetagens uterinas semióticas obtém-se apenas uma amostragem de 50% do endométrio e, desta forma, 10 a 35% das lesões deixam de ser diagnosticadas.

O tratamento de pacientes com câncer de endométrio é cirúrgico e inclui a retirada do útero e ovários, em alguns casos é realizada a lifadenectomia pélvica. As pacientes com contra-indicação cirúrgica são tratadas com radioterapia. Nos casos mais avançados, a quimioterapia e a progestogenioterapia têm sido empregadas.


Diagnóstico do câncer de endométrio

Já vimos que o sintoma principal que aparece na grande maioria das mulheres com câncer de endométrio é o sangramento uterino anormal, principalmente depois da menopausa. A prevalência de câncer endometrial entre mulheres com sangramento uterino anormal na pós-menopausa é variável, mas estudos apontam ser este um fator de risco importante e que deve receber atenção especial.

Para começar o diagnóstico em relação a tumores endometriais, o médico fará um levantamento de dados da paciente levando em conta os fatores de risco tais como: irregularidade menstrual, diabetes, hipertensão arterial, obesidade e idade acima dos 40 anos. A investigação do câncer de endométrio deve ser realizada em mulheres assintomáticas que apresentam fatores de risco através de exames. Os meios utilizados para o rastreamento do câncer endometrial são: citologia cérvicovaginal, citologia endometrial e ultra-sonografia e ecografia transvaginal.

A ecografia transvaginal pode apresentar o endométrio espessado e a necessidade de ser realizada uma biópsia endometrial. Em geral, todos os exames que permitam retirar uma amostra do endométrio fecham o diagnóstico de câncer de endométrio. São eles: biópsia endometrial que pode ser realizada no próprio consultório médico ou em um ambulatório; a curetagem uterina com dilatação do colo uterino,realizada com anestesia, e a histeroscopia com biópsia dirigida (pode ser realizada com ou sem anestesia, dependendo de cada caso). A histeroscopia possibilita também o diagnóstico de doenças benignas, como pólipos e miomas.

A vídeo-histeroscopia diagnóstica apresenta vantagens para a detecção do câncer de endométrio porque permite avaliar o tamanho e o local de origem do tumor. Por isso, ajuda no estadiamento, na análise do comprometimento do colo uterino. É um método menos agressivo e menos dispendioso do que a dilatação e curetagem uterina com anestesia. A biópsia endometrial é obrigatória e é a única maneira de comprovar o diagnóstico suspeito de câncer de endométrio.

Tratamento do câncer de endométrio
O tratamento oferecido a pacientes com câncer de endométrio é a cirurgia que, geralmente, inclui a retirada do útero e dos ovários, isto é, uma histerectomia total. Em alguns casos, é realizada a linfadenectomia pélvica que consiste na retirada cirúrgica de uma pequena parte do sistema linfático para impedir metástases. As pacientes com contra-indicação cirúrgica devem ser tratadas com radioterapia. Nos casos mais avançados de câncer endometrial, a quimioterapia e a progestogenioterapia têm sido empregadas. Hormonioterapia e quimioterapia são tratamentos indicados nos casos de câncer de endométrio avançados ou de recidiva do tumor.

O endométrio é a mucosa que reveste a cavidade interna do útero. Nos casos de câncer endometrial, a prevenção não é viável. No entanto, o diagnóstico precoce é fundamental para a cura da paciente.

Há um aumento progressivo do número de pacientes portadoras de câncer do endométrio nos últimos anos, em função do aumento da expectativa de vida, isto porque o câncer do endométrio é um câncer típico da mulher idosa. O aumento significativo do uso prolongado e indiscriminado dos hormônios estrogênicos para o tratamento do climatério e da menopausa também contribui para o aumento do número de casos de câncer de endométrio.

Há um grupo de mulheres que apresenta maior incidência de câncer do endométrio e essas mulheres são consideradas pacientes de alto risco. Os fatores de risco são:

* a idade, porque é uma doença mais característica da mulher idosa;
* a dieta alimentar porque o câncer de endométrio é mais freqüente em mulheres com maior ingestão de gordura;
* mulheres que tiveram uma menarca precoce e uma menopausa tardia;
* mulheres que não tiveram filhos;
* o uso prolongado e indiscriminado, em altas doses, dos hormônios estrogênicos para o tratamento da reposição hormonal da menopausa;
* hipertensão, diabetes e obesidade também são considerados fatores de risco porque o câncer de endométrio vem acompanhado por essas doenças.

O diagnóstico precoce é fundamental para os casos de câncer de endométrio. Anualmente, a mulher com mais de 40 anos de idade deve fazer uma ultra-sonografia do útero. Após a menopausa, qualquer perda sangüínea pela via vaginal deverá ser investigada o mais rapidamente possível para a descoberta precoce de qualquer lesão pré-maligna ou já maligna em fase inicial.

O uso prolongado de pílulas anticoncepcionais que contenham progestogênio diminui bastante os casos de câncer do endométrio.
Da Agência Brasil

Fonte: Pernambuco.com

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